Cada um é para o que nasce...
Em tempos que já lá vão um lavrador mandou ensinar a ler os seus cinco filhos. Depois de os achar prontos para enfrentar a vida, perguntou-lhes o que é que pretendiam ser. Falou o mais velho:
- Eu só queria mandar e ter gente às minhas ordens.
- Então vais ser militar para chegares a comandante e mandares na tropa.
- Eu desejo aprender como é que se esfola gente; ou seja, «Fazer do direito torto e do torto direito».
- Bem te entendo: tu vais formar-te em direito, serás advogado.
- Eu gostaria de saber como se pode matar gente, e não ser acusado de criminoso.
- Então vais estudar medicina, já que é essa a tua vocação.
E olhando para o quarto filho, que estava com um sorriso alvar, perguntou-lhe:
- E tu qual é a profissão que te agrada mais, para assim te encaminhar?
- Oh, pai! O que eu queria mesmo era ter a arte comer bem e cantar de papo cheio, sem fadigas de trabalho.
- Óptimo! Vais para um seminário; darás um lente padre.
O quinto filho já estava impaciente, por isso, antes ouvir a pergunta, disse convictamente:
- Pai, mande-me para uma profissão que seja rendosa.
- Rendosa?! Explica-te melhor meu filho.
- Que se juntem muitos bens, que tenha muitas mordomias, que possa mentir, convencendo todos que falo verdade e que, por qualquer falcatrua que descubram, fique protegido por lei, para além de poder evocar como alibi: Estou a ser vítima de uma cabala...
- Ó rapaz, basta!... A tua vocação é a política. Vais para a Assembleia da República.
Teófilo Braga (adaptado)
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